Crime cultural de lesa-majestade.
Não há palavras que descrevam a política do nosso país, no que diz respeito à saude, à educação e à cultura. Como é que possível viver num país que não consegue criar as suas próprias soluções, insistindo em importar modelos que, por mais perfeitos e adequados que aparentem ser, ou são, se revalam sempre tão desajustados da nossa realidade?
Em causa está o ensino especializado da música nas escolas públicas em Portugal, em causa está a formação de um país - a profissional e, acima de tudo, a pessoal, aquela que forma o indivíduo, portador de uma identidade que vai cunhar o "colectivo" . Colectivo que nos forma país, que nos diz portugueses, checos, franceses...
Caminhamos a passo largo para um país ágrafo!
Segue-se um texto do punho do compositor e professor Eurico Carrapatoso, a sua eloquência não necessita de adjectivos. Contamos consigo para não cairmos no silêncio, no obscurantismo, na não-inscrição. Pense um pouco nisto, espalhe a palavra, assine a nossa petição.
Unamos esforços:
Viva,
O futuro do nosso Conservatório Nacional não tem as melhores
perspectivas. A ministra da Educação, numa óptica estritamente
economicista, parece considerar incomportável o ensino da música
ali exercido, suportando as suas opiniões na ressonância de uma
comissão de especialistas doutorados que, também numa óptica
estritamente economicista, lhe sugere, entre outras soluções, a
implementação das aulas colectivas de instrumentos [com 10
trompetes de cada vez ou com 10 cantores(não confundir com coro)],
para acabar de vez com o ratio insustentável de 1 professor para 1
aluno; comissão essa que também lhe sugere a subtracção do direito
às aulas aos alunos em regime supletivo, ou seja, àqueles que
buscam efectivamente, após o chamamento da sua vocação, a cultura
numa das suas formas mais cristalizadas - a música - seja como
complemento legítimo à sua educação e plenitude
espiritual, seja como investimento sério e responsável numa
perspectiva de futuro profissional, e,assim, canalizando o ensino
da música apenas para o regime integrado e articulado, a começar
aos 10 anos de idade. Temos de concordar com a ministra e com
aquela comissão: esta é, de facto, a idade típica, diria mesmo
ideal, em que a criança (que entretanto já terá lido e interpretado
Kant na primária) está no ponto de ouro para discernir sobre a sua
inquestionável vocação instrumental (Mãe: quero o fagote! De forma
alguma violeta, já disse!); e também na idade de se responsabilizar
pelos seus actos, dando o passo grave, e, a partir daí, suportar
todas as consequências do sentido do passo dado.
O Conservatório já sobreviveu a muitas situações desde a sua
fundação: sobreviveu à Maria da Fonte, ao Setembrismo, às
convulsões do Ultimatum e aos consequentes fervores republicanos. E
sobreviveu ao regicídio e à transição de Regime; e resistiu ao
fascismo e à economia de duas guerras mundiais; sobreviveu à guerra
do Ultramar, ao verão quente de 75 e ao Cavaquistão. E há-de
sobreviver ao Governo de Sócrates.
Comecei a escrever uma lista de alunos e ex-alunos do Conservatório
Nacional de Lisboa que seguiram (ou seguem) com sucesso a profissão
da música (por ordem alfabética de apelido). A lista foi crescendo
aos poucos consoante ia crescendo o meu orgulho por ser professor
numa casa que, com mãos tão generosas, deu frutos tão sumarentos à
cultura da subtileza de Portugal.
A cultura é a alma de uma nação. O seu valor é incalculável. Não se
mede por números, Sra Ministra.
Acordai!
Eurico Carrapatoso
http://www.myspace.com/contraofimdoensinoespecializadodemsica
O futuro do nosso Conservatório Nacional não tem as melhores
perspectivas. A ministra da Educação, numa óptica estritamente
economicista, parece considerar incomportável o ensino da música
ali exercido, suportando as suas opiniões na ressonância de uma
comissão de especialistas doutorados que, também numa óptica
estritamente economicista, lhe sugere, entre outras soluções, a
implementação das aulas colectivas de instrumentos [com 10
trompetes de cada vez ou com 10 cantores(não confundir com coro)],
para acabar de vez com o ratio insustentável de 1 professor para 1
aluno; comissão essa que também lhe sugere a subtracção do direito
às aulas aos alunos em regime supletivo, ou seja, àqueles que
buscam efectivamente, após o chamamento da sua vocação, a cultura
numa das suas formas mais cristalizadas - a música - seja como
complemento legítimo à sua educação e plenitude
espiritual, seja como investimento sério e responsável numa
perspectiva de futuro profissional, e,assim, canalizando o ensino
da música apenas para o regime integrado e articulado, a começar
aos 10 anos de idade. Temos de concordar com a ministra e com
aquela comissão: esta é, de facto, a idade típica, diria mesmo
ideal, em que a criança (que entretanto já terá lido e interpretado
Kant na primária) está no ponto de ouro para discernir sobre a sua
inquestionável vocação instrumental (Mãe: quero o fagote! De forma
alguma violeta, já disse!); e também na idade de se responsabilizar
pelos seus actos, dando o passo grave, e, a partir daí, suportar
todas as consequências do sentido do passo dado.
O Conservatório já sobreviveu a muitas situações desde a sua
fundação: sobreviveu à Maria da Fonte, ao Setembrismo, às
convulsões do Ultimatum e aos consequentes fervores republicanos. E
sobreviveu ao regicídio e à transição de Regime; e resistiu ao
fascismo e à economia de duas guerras mundiais; sobreviveu à guerra
do Ultramar, ao verão quente de 75 e ao Cavaquistão. E há-de
sobreviver ao Governo de Sócrates.
Comecei a escrever uma lista de alunos e ex-alunos do Conservatório
Nacional de Lisboa que seguiram (ou seguem) com sucesso a profissão
da música (por ordem alfabética de apelido). A lista foi crescendo
aos poucos consoante ia crescendo o meu orgulho por ser professor
numa casa que, com mãos tão generosas, deu frutos tão sumarentos à
cultura da subtileza de Portugal.
A cultura é a alma de uma nação. O seu valor é incalculável. Não se
mede por números, Sra Ministra.
Acordai!
Eurico Carrapatoso
http://www.myspace.com/contraofimdoensinoespecializadodemsica
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