quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Um Flirt na Nazaré

Decorria o ultímo dia de uma passagem de ano épica, quando fui com um amigo à procura da cafeina que o organismo reclamava para voltar a processar informação a uma velocidade aceitável.
Chego ao balcão de uma pastelaria e quando sou atendido:
T : Boa tarde.
Menina do Balcão: Boa tarde.
T: São dois cafés e... Este pastel é de amêndoa, não é?
M: É sim senhor. É um Nazareno
(Um bolo típico, portanto)
T: Então é isso... Dois cafés e um Nazareno.
M: Então e uma Nazarena... não quer?

Fiquei um bocado sem graça, não é todos os dias que uma rapariga nos seus 60, e qualquer coisa anos, me aborda assim tão decidida! Lá arranjei qualquer coisa para responder...

T: Então mas uma rapariga destas não é comprometida? Não pode ser...

As outras funcionárias, possivelmente descendentes da minha pretendente, andavam ali por perto a atender, aparentemente concentradas no trabalho, mas lá se descosem com um sorrizinho maroto. E diz uma de um lado:
- É descomprometida sim senhor, é viúva...
E a outra que ia a passar:
- E está rica.

Mais uma vez sem graça, lá respondo:
T: Bem, então nesse caso vou ali a casa buscar o fato e a gravata e já cá volto!
E lá nos rimos todos.

Simpatia desarmante, a de muitas das pessoas da Nazaré, para quem chega lá sem ser de nariz empinado. E o Ego agradece também, ás vezes precisamos de um elogio de um desconhecido.

Agora dei por mim a pensar, que casar com uma velha rica deixou de ser uma ideia tão estapafúrdia nos últimos tempos. É que andei a ligar pra saber o preço das casas em Lisboa, e enfim...

Mas no fim, lá chego á conclusão que o golpe do baú não é para mim.
Resta-me esperar que a felicidade continue a encontrar-me sem que esteja com ninguem pelos pricípios errados. Vou tentando merecê-la todos os dias.

Sinais de Mudança



Hoje o dia até me estava a correr mal, mas depois deram-me o Destak á saida do Metro, e voltei a acreditar num mundo a mudar para melhor, num futuro risonho... Afinal de contas, como não ser optimista com o Harry Potter à frente do Ministério da Saúde?

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

É de pequenina que se faz a Varina

Muita gente há-de dar-me razão se disser que as mulheres umas pras outras são um bocado cabras... Eu acho que é um facto. É uma coisa que vem com o género. Desde a mais tenra idade a coisa salta à vista.

Vou dar um exemplo. É sempre bom ilustrar os Factos:

Tenho duas alunas que têm aula uma a seguir á outra comigo.
A Carolina tem 5 anos.

Eu: ...e pronto, já está na hora, temos de acabar a aula...
C: Ooohh, já! Porquê?
Eu: Então já passou o tempo, agora a seguir é a aula da Leonor.
C: A Leonor?
Eu: Sim, aquela menina com o cabelo loiro que aparece aí a seguir a ti.
C: Ah! Já sei qual é, ela também anda no Ballet. É Feia!
Eu: Não é nada feia a tua colega, não digas isso.
C: É feia é, eu já a vi...

:-/

A Leonor tem 8 anos.

L: Então aquela... a Mafalda? A... Matilde?
(fartinha de saber o nome da outra)
Eu: A Carolina?
L: Sim... essa... O que é que ela já aprendeu?

Expliquei-lhe o que tinha ensinado á Carolina e fiz uma comparação. Depois a Leonor fez possivelmente a aula mais esforçada até hoje...
É que hão-de ser assim a vida toda! Está lá no código genético...

Bom começo.

Se é para nos metermos nas coisas, deverá ser a sério. Portanto, seria interessante editar o perfil, deixar lá umas palavrinhas.

Não começou bem.

Os aniversários são importantes. Para mim são dias importantes - o meu e o dos outros que fazem o meu mundo. E porque os anos que passam são anos ganhos, optei por deixar uma dica indirecta a todos (Ah! Agora ninguém tem desculpa para não me ligar no dia de anos) e lá escrevi a data de nascimento.

Não começou bem.

Qual não é o meu espanto quando começo a ler o perfil gravado "não sei quê; 28; feminino; Gêmeos; Cabra..." Cabra?! Mas porque carga de água...? Ainda nem escrevi praticamente nada.

Está a começar bem:)

P.S.:"Alguém me pode trazer um iogurte Danone? Daqueles. Daqueles com as mensagens:) Estou a precisar de uma mensagem".

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Chegada

Esta mania de ser honesta... dizer aquilo que penso, sinto e sobretudo descrever as figuras desconcertantes que faço para me rir juntamente com alguém... Resolvi então, já que se fazia tarde em aceitar um convite maravilhoso que me foi feito, chegar e contar toda a figura desconcertante que fiz só para passar a pertencer e por isso escrever qualquer coisa aqui neste cantinho inspirado (se não leram todos os posts têm obrigação de o fazer... estão razoáveis!)

Depois de cumprimentar o senhor da barbearia “Olá menina”; subir as escadas a correr e, ao mesmo tempo, a falar ao telemóvel; com trinta sacos a tiracolo; as cartas do correio quase a escorregar da mão; o telemóvel de novo a tocar... sentei-me. Fiquei de longe a olhar para a porta. Contempleia. De novo o telemóvel e depois a campainha “Oh menina desculpe incomodar, blá blá”. Acendi as velas e comecei a saborear o meu chá. E a porta lá estava novamente. Apesar de não haver dificuldade nenhuma, fui durante algum tempo incapaz de tomar uma atitude. Até já era confortável saber que ela estava ali. A medo estendi a mão e abri uma pequena fresta de forma silenciosa. Não queria de todo incomodar. Expectante fui abrindo. O que encontrei lá dentro surpreendeu-me e intimidou-me: uma verdadeira animação. Estava tudo feito e só havia risadas, suspiros, desabafos, até a Nicole lá estava.

Apercebi-me que estava mais do que atrasada e deveria ter chegado mais cedo, nem que fosse para pôr alguma ordem naquilo ou para causar alguns estragos. É que aquele pessoal estava a levar toda aquela converseta a uma velocidade perigosa... isto para não mencionar, que segundo me consta dois deles são artistas e inspirados. Um deles até se anda a especializar na dança.

Depois de tanta observação e hesitação, ajeitei a camisola, dei um toque no cabelo que rebelde parece sempre despentado e com um grande sorriso entrei e aproximei-me... disseram-me para me sentir como se estivesse em casa. Achei por bem cumprimentar os presentes: Olá, eu sou a Rita e acabei de chegar!

a parte gira de se arrumar a casa...

Lembro-me um dia de, em conversa no bairro alto, de copo na mão e já um pouco em delirius tremens, dizer a uma bela rapariga, a conversa deveria rondar qualquer coisa sobre valores e posses, ou algo que o valha pois o meu estado mais não deixa recordar que a minha frase e o silêncio que se seguiu:
"Eu não possuo nada - disse esvaziando os vazios bolsos, excepto este sax que trago às costas (fiel companheiro, para o melhor e para o pior) e uma mão cheia de verdadeiros amigos. Essa sim, é a minha grande riqueza!"

Poderia estar ébrio, mas a verdade mantém-se de tal modo que até a mim me surpreende.
Hoje recebi um e-mail que uma amiga me mandou com um poema, e chega a ser assustador como os nossos amigos parecem conhecer-nos melhor que nós.

Obrigado Cláudia, obrigado Tiago, os outros, por ora, que me perdoem a discriminação, são tantos e bons que terão o meu tributo em hora certa. Todavia, "mi corazón es vuestro!"

"é encontrarmos verdadeiros tesouros por entre pilhas de lixo.

Não sei se te cheguei a passar isto mas, em todo o caso, tinha uma folhinha - com um aspecto ancestral, denunciando que já faz muito tempo que foi escrita - que dizia: "dar ao filipe."

Portanto...com grande atraso - mas mais vale tarde que nunca- e possivelmente repetido, cá vai:


Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade
está um pouco usado, meio calejado, muito machucado
e que teima em alimentar sonhos, e cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente
que nunca desiste de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado,
coração que acha que Tim Maia estava certo
quando escreveu... "não quero dinheiro,
eu quero amor sincero, é isso que eu espero...".
Um idealista...
Um verdadeiro sonhador...
Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece,
e mantém sempre viva a esperança de ser feliz,
sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional
sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando relações
e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste
em cometer sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições
arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado. Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional que,
abre sorrisos tão largos que quase dá pra engolir as orelhas,
mas que também arranca lágrimas e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado,
ou mesmo utilizado por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado
indicado apenas para quem quer viver intensamente e,
contra indicado para os que apenas pretendem passar pela vida
matando o tempo, defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente
que se mostra sem armaduras e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater
ouvirá o seu usuário dizer para São Pedro na hora da prestação de contas:
" O Senhor poder conferir, eu fiz tudo certo,
só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal
quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer e, se recusa a envelhecer".
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por outro
que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,
mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que,
ainda não foi adotado, provavelmente,
por se recusar a cultivar ares selvagens ou racionais,
por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio, sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que,
mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar, mas vez por outra,
constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence seu usuário
a publicar seus segredos e, a ter a petulância
de se aventurar como poeta.


Rifa-se um Coração, Clarice Lispector "

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

THE DARJEELING LIMITED

Não conheço muitas pessoas que gostem dos filmes do Wes Anderson. Talvez por o humor ser muito estranho, muito subtil. Os tema fetiche dele, familias ricas e muito excêntricas também não é fácil. Mas este filme é muito bom, e mais acessivel que os anteriores. Como sempre com um elenco completamente de luxo, com a Natalie Portman a fazer um personagem que só entra numa cena, mas está presente como um fantasma durante o filme todo. E o Bill Murray que faz de figurante... A banda sonora é muito boa. O cenário (a India) é um espanto, ainda tenho os olhos feridos de tanta côr. A maneira como está escrito á volta do clichê da viagem espiritual é um recital de humor inteligente. E a fotografia! A fotografia deste filme é brilhante... Mesmo que mais nada no filme prestasse, para mim, já valia a ida ao cinema.

Quem não gostava do Wes Anderson arrisca-se a mudar de opinião com este filme. Se calhar o que ele fez antes, "The Royal Tennenbaums" ou "The Life Aquatic with Steve Zizou" por exemplo, também vai acabar por ser melhor compreendido.

domingo, 27 de janeiro de 2008

O que há em mim é sobretudo cansaço



O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos

sábado, 26 de janeiro de 2008

Nazaré II




Fotos by Bruno.

Efeméride

Parece-me que já foi á muito mais tempo, mas passou apenas um mês desde que começei este blog. Começei a escrever mais para meu bel prazer, mas muito rápido me apercebi de que a piada está na partilha, da ideia, da piada, do sentimento, da palavra... Não faço ideia quantas pessoas espreitam por esta janela, mas aqui vai um obrigado a todos, em especial aos que intervêm. Sabe bem ter-vos por aí, partilharmos um lado que o dia-a-dia nem sempre deixa mostrar. Um obrigado á Stella Maris por ter ajudado o meu gosto pela escrita a reacender. Outro ainda maior ao Diabolous in Musicae pela companhia, em muitos sentidos. E um antecipadamente ao elemento femenino do Blog, que não tarda arranja um tempinho para se juntar a nós como me prometeu.



Um mês chegou para me habituar a ter este cantinho. Apercebi-me melhor nos últimos dias. Tornou-se estranho ter coisas para escrever e faltar-me o tempo!

Até logo...

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Citação do dia

"die Kunst, alles aus einem zu erzeugen" Arnold Schönberg

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

O suspeito

Eu sabia que já tinha visto o suspeito em qualquer lado! É o Mugen... Um personagem da minha série de anime preferida. Samurai Shamploo.









Será que sou o único que estou farto desta merda de circo á volta da miuda? Um retrato robôt agora???

Nazaré



Acabei o ano neste sítio mágico... Amanhã um post decente com um episódio da experiência nazarena.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Outro Retrato

Na sequência do Retrato do Diabolous in Musicae venho deixar um post com uma coisa que escrevi, mais ou menos, aos vinte anos, correndo o risco de dar origem a uma espécie de Tesourinhos Deprimentes do The Invention of Balance!

Inevitavelmente
Imagina-se algo grandioso
Próprio de quem ama
a sua pequena grande utopia.
Imaginária, vaga,
Mas cheia de pequenos pormenores.
No meio a causa
Irracional, única, nobre, vulgar
Distinta somente devido a quem a causa,
a materializa no vazio
sem que chegue a ocupar espaço real.
Inevitavelmente
Flutua à volta da causa,
E tudo mais são pormenores
Nascidos de uma pureza susceptível
Pureza pessoal
Inevitavelmente pragmática, vulgar,
Distinta somente devido a quem a causa.
O que se obtém é algo mais pequeno.
O prazer é intenso.
A imaginação volta a voar.
Alto demais, ou talvez não.
Inevitavelmente
A comparação surge.
Eis a distância entre a verdade e a poesia.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

A relatividade

Aos senhores Mickael, Joaquim, e Filipe tenho a dizer que me divirto mais numa noite a estudar análise com vossas excelências do que numa noite de copos com tantas outras pessoas...

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Young at Heart...

Há, talvez, dois anos e pouco escrevi acerca de uma paixão literária, daquelas que se extinguem como a cinza após a combustão e se perdem no vento da nossa memória, que:
"...não há valores lenitivos para a perda do que poderíamos ser."

À luz do tempo as palavras parecem desmedidas, mas a vida parece acertar e eis que, mais cedo ou mais tarde, dota-me as palavras de profundo sentido.

Cumpriu-se a palavra!

Confesso que nem sempre é agradável sentimento, mas o facto de ainda existir a surpresa faz-me sentir vivo, e um pouco sereno. De certo modo sinto-me feliz, é bom saber-me capaz da hipótese de um sonho, da juventude que existe na espera da possibilidade desse potencial.

Obrigado amiga pela canção...

E por ora, fechamos esta janela, sem impropério ou desagravo.

Fairy tales can come true, it can happen to you
If you're young at heart
For it's hard, you will find, to be narrow of mind
If you're young at heart

You can go to extremes with impossible schemes
You can laugh when your dreams fall apart at the seams
And life gets more exciting with each passing day
And love is either in your heart or on its way

Don't you know that it's worth every treasure on earth
To be young at heart
And as rich as you are it's much better by far
To be young at heart

And if you should survive to 105
Think of all you've derived out of being alive
Then this is the best part
You have a head start
If you are among the very young at heart

Don't you know that it's worth every treasure on earth
To be young at heart
Or as rich as you are it's much better by far
To be young at heart

And if you should survive to 105
Think of all you've derived out of being alive
Then this is the best part
You have a head start
If you are among the very young at heart
If you are among the very young at heart



tom waits, Orphans: Brawlers, Bawlers & Bastards

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Carta Aberta aos directores de marketing da Danone

Caros Senhores

Abrir um iogurte era suposto ser uma experiência agradável. Não percebo onde é que entra a parte de ler uma frase estúpida antes de comer o iogurte!

Por exemplo ontem abri um que me presenteou com a seguinte pérola literária:
"Olha para ti... Ainda há princesas!"

A imagem que me ocorreu foi a de um babuino com um lápis e uma folha branca á frente, assim primeiro pensativo, em busca de algo, até que lhe chega esta frase de génio e a escreve no papel, a muito custo, a morder a lingua e a carregar demasiado no lápis.

Em criança, quando estava a dar um filme de terror eu sabia que olhar para a televisão ia perseguir-me, que ia ter pesadelos com aquilo, mas não conseguia deixar de olhar. Com os vossos iogurtes passa-se algo semelhante... Eu sei que vou ler uma frase estúpida. Sei que aquilo me vai revoltar naturalmente, como qualquer manifestação de estupidez humana. Mas ainda assim a minha curiosidade mórbida obriga-me a virar o papel e ver a que ponto pode chegar a vossa imbecilidade! É certo que não vêm daí males maiores para a minha saúde mental, e dificilmente me conseguem convencer de que sou uma princesa... E se fosse uma princesa talvez lesse alguma ironia na frase. É que a ser uma princesa teria de ser daquelas que usam muitas plumas e fazem playback nos clubes nocturnos da especialidade. Obviamente não sou. Para o bem ou para o mal das artes deste pais, sou um simples músico.

Mas se calhar até podia fazer um part-time aí na Danone... Algo me diz que a equipa de amibas que têm aí escrever frases nos iogurtes precisava de uma mãozinha, portanto estou disposto a receber a vossa proposta.

Com os melhores cumprimentos
Tiago

domingo, 13 de janeiro de 2008

RETRATO

Quando eu tinha 20 anos era mais ou menos assim:

SER PORTUGUÊS
Poemacto de Geração

A Viagem

Há uma viagem que se faz por um rio que não se conhece, que se descobre a cada palmo navegado, numa embarcação que só o tempo dá a conhecer e nos diz onde forçar e onde proteger. Uma viagem que não escolhemos, um destino que não conhecemos, um prognóstico metereológico que nos é dado no fim da viagem, quando só nos é permitido refazer a carta dos sonhos passados e das amarguras que ficaram no fundo do copo, secas com o vinho de ontem que bebemos os dois. Sim, alguns cursos do rio foram partilhados, outros ainda o são, e a viagem continua num rio que já é mar, ou lagoa, água de uma barragem sem terra à vista sem mais rio para desaguar. Caravelas de esperanças, lágrimas de crianças, céu azul, verdes campos e margaridas por desfolhar, rios por viajar e terras prometidas, reis que nunca vês nesta terra do nunca... e o alentejo não tem mar e as rosas não têm mãe e o cristo continua sem biblioteca e o rio continua a correr, sem edição original, docemente para o mar ou para o raio que o parta ou para o raio que me parta, que esta terra é profíqua em tempestadades mas parca em pára-ráios...Vamos todos quantos somos neste rio navegar para no final da história nele alegremente ficar...afogado ou asfixiado pelo petróleo das motas de àgua, ‘No importa, No passa nada, mi estrellita’. A noite cai…do céu aos trambolhões, e quase se magoa, felizmente isto é um rio, enfim, a noite cai e o azul do céu fica igual ao preto da terra, que da tão prolongada ausência permutou a cor vivaz por preto de luto, como o de um parente que não é chegado e já foi indo, pelo Letes, à procura do barqueiro, afim de se libertar do negro óbolo que resguarda em sua boca, na esperança da passagem para um futuro palpável que não se esvaia entre os dedos e se confunda com o sonho, como aquele do dia em que aportámos ao paraíso e pedimos um galão de máquina e uma merenda e o Luís nos tocou aquela canção de embalar da mãe do Brower enquanto comíamos tranquilamente e respirávamos fundo, aproveitando o ponto final antes do aluvião, o silêncio da pausa, o pretérito imperfeito, ponto.

Parágrafo.

(porque me apetece respirar e isto são só letras e não mandam mais do que eu, que aqui ao leme sou o maior, sou o país que só eu sou, o continente incontinente, o barco na banheira com um ralo que decide se presta o leme que eu governo de peito inchado e barriga vazia, Vamos lá cambada, passa a bola ó campeão, afinfa-lhe no ‘disco-sound’ e uma amesquete sempre arranca uns aplausos GOOOOOOOOOLOOO)

. Ainda o mesmo parágafo.

Macho Cleening!

Hoje, para grande infelicidade minha tenho de limpar a casa de banho. É a minha vez que chega, fatal como o destino. E o meu amigo Júlio, vai ao cinema... Então lembrei-me que, numa das vezes em que limpamos juntos em vez de fazermos os turnos, fiz provavelmente a minha melhor piada de 2007!

Estava o Júlio a limpar e diz:
"Eh pá, mete lá aí um som, pra não ser uma seca tão grande"

Eu: "Ok" :-)

Ponho o tema principal do Brokeback Mountain no máximo do volume e espreito do fundo do corredor, para ver o Júlio em calções e sem blusa parar de limpar o espelho, ficar pensativo durante 2 segundos, e depois dizer:

"Fooooodassss.... Isto não meu!"

Júlio, deixar-me a limpar sozinho dá direito a retaliação! Eu prometo que ponho um som que não atente á nossa condição heterossexual, e não se fala mais nisso!

O Idilico e o real


Sobre a Nicole Kidman disse um amigo meu uma vez:

"...Não faz muito o meu tipo, mas tem aquele aspecto de que, se estivesse uma semana sem tomar banho, ainda assim continuava a cheirar a rosas..."

Subscrevo inteiramente. Aliás, diria memo que ela tem aspecto de quem, se eventualmente desse uma bufa, cheirava a Channel Nº5.


Infelizmente algo me diz que eu e a Nicole dificilmente chegaremos a esse nivel de intimidade... E felizmente não sou do tipo de exigir que uma mulher seja uma criatura saida de um conto de fadas.

Da alma humana...

2ª Sinfonia de Mahler... Pouco consigo dizer, talvez uma das tais 100 obras a ouvir antes de sermos portadores do negro óbolo na famosa travessia do Hades. Pouco consigo dizer, a ouvir!
A nossa Sinfónica está de parabéns, ouvimos Mahler e ouvimos bem.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Um beijo em quartas

Hoje beijaste-me, e isso tem todo o futuro.
E eu tenho tempo, espero por ti nesse sorriso pueril emoldurado pelo teu amplexo de mulher, meu amor.

Uma questão de humildade ou discernimento?

MANIA DO SUICÍDIO

Às vezes tenho desejos
de me aproximar serenamente
da linha dos eléctricos
e me estender sobre o asfalto
com a garganta pousada no carril polido.
Estamos cansados
e inquietam-nos trinta e um
problemas desencontrados.
Não tenho coragem de pedir emprestados
os duzentos escudos
e suportar o peso de todas as outras cangas.
Também não quero morrer
definitivamente.
Só queria estar morto até que isto tudo
passasse.
Morrer periodicamente.
Acabarei por pedir os duzentos escudos
e suportar todas as cangas.
De resto, na minha terra
não há eléctricos.

Rui Knopfli


Quando morava na outra casa tinha, entre outros, este poema na parede. Éramos três lá em casa, dois dos quais músicos.
Eu e o outro, vamos chamar-lhe "músico", antes amigos agora incompreendidos, chegáramos ao colapso da cordialidade, tínhamos discutido uns dias antes, e eu pensei, "Não dá, não consigo comunicar com este troglodita". Havia uma mulher que dormira lá em casa, a quem eu explicara que "Isto não tem futuro" que me perguntou de quem era Aquela mania do suicídio? Do Rui Knopfli, retorqui...

Tínhamos jantado em casa da Joana, muita conversa e vinho e lá dormimos todos... Vim a casa mal dormido tomar banho e mudar de roupa, abro a janela o sol do meio-dia inunda-me a sala e na estrada defronte vejo escrito em letras brancas garrafais "Músico procura-se para terra sem futuro e sem eléctricos".

O "músico" queixou-se ao terceiro elemento lá de casa, que aquilo era uma afronta...anunciou a sua saída para o final desse mês.

Ainda hoje me interrogo que terá o "músico" entendido naquela frase, se nem sequer conhece Rui Knopfli?

Foi das coisas mais bonitas que já me escreveram...

100 Obras para ouvir antes de morrer - nº3


Dois brasileiros, uma guitarra e uma garrafa de whisky, num estúdio de um amigo em Milão. Decidem gravar um Álbum! Acham que pode dar bom resultado? Posto assim, eu também achava que não... Toquinho e Vinicius de Moraes, em 1975, imortalizaram o que para mim é a Bossa Nova. Sem grandes produções, meses em estúdio, takes sem fim... A fazer com toda a simplicidade deste mundo canções bem complicadas. Para mais o Vinicius escreveu quase todas as letras. E o Toquinho tocar Bossa é a perfeição.

É um bocado penoso para mim ouvir mais uma versão da "Garota de Ipanema", ou da "Insensatez", versão chillout, versão arranjo para 50 músicos, etc... Soa tudo redundante. Nunca ouvi, nem imagino versões feitas com mais alma do que as que estão aqui. Há outras boas... Se calhar tou a ser um bocado redutor com tudo o que veio depois, mas nisto das versões dos clássicos acontece o mesmo que com os Grafittis: em cada 100 paredes pintadas, se calhar, uma é arte, e o resto são rabiscos sem talento.

Uma pena...


Hoje fui ver o João Paulo Santos a dar um concerto de piano a solo no Teatro da Barraca. Ele é musico demais para aquele pequeno espaço, toca lá porque é amigo da casa, e no entanto... uma sala de pequeno café concerto, com meia duzia de gatos pingados.

Por um lado até me reconforta o ego, quando for tocar para meia dúzia de gatos pingados, pensar no musico brilhante que é o João Paulo e como por vezes a plateia dele é tão pequena. Por outro nunca vou conseguir aceitar que as coisas sejam assim. Hei-de me esfolar por ter público, porque sei que estou a fazer as coisas bem. Talvez duvidasse mais se só me acontecesse a mim.
Preserverança. Faz tanta falta.

Se começasse a escrever sobre o que ouvi hoje, musicalmente, não sei quando parava... E provavelmente ficava muito longe de conseguir explicar o que é ver este concerto. Não vale a pena. Vão ver na proxima oportinidade. A sério.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Vida Madrasta

"...this is me at my most masoquistic..." Bill, in Kill Bill, já não sei qual dos volumes


Imaginem uma pessoa que passa todos os dias numa linda ruela do Chiado, onde gostava muito de morar... Um belo prédio em que só deixam a fachada e restauram a fundo tudo o resto. Um numero de telefone num anuncio a dizer T0 a T4.

Penso eu pra mim:

Que perco em ligar? Eu ficava mais que bem num T1, mesmo num T0... Eu nem sequer faço fritos...

Decidi ligar.

Senhora telefonista muito bem disposta: "Boa tarde!"

Eu: "Boa tarde, estou a ligar pra saber o preço e área dos apartamentos T0 e T1 na rua ____"

Sra tel mt bem disp: " O T0 está lincenciado para escritório, tem uma área de..."

Eu: " Escritório não me serve, ando á procura de habitação... E os T1"

Sra: "Os T1 já estão vendidos... Só temos T2"

Eu(Bill): " Bem, já estou a ligar diga-me o preço e a área dos T2.

Sra: "Os T2 são 520 000 euros, e têm uma área de owqhfrhwhgjrwoqgjinogr..."


Pois é, a área infelizmente já não consegui ouvir, quando o cérebro processou quanto eram 520 000 euros em moeda antiga, nova, estrangeira, horas de trabalho, confirmou os dados e disse:
Sim... 520 000 Euros...
Senti uma pontada nas costas, e tive uma visão do futuro. Era eu, a morar num T1, na Damaia, ou em Chelas... Ou no Montijo.


Sra(um pouco confusa): "Tou..."

Ao voltar a mim ainda me ocorreu dizer que ia ligar para o meu banco, a pedir um empréstimo a 150 anos, mas faltou-me o espírito. Fiquei-me pelo:


Eu "Então obrigado, e boa tarde..."

Sra(Com uma voz de quem já tinha visto o filme mais vezes e teve sempre pena): "Boa Tarde..."


Resta-me o consolo, onde quer que vá morar, de não pertencer a nenhum cartel colombiano, não traficar os Rins de alguns pobres coitados na Macedónia, não ser filho de um ditador, etc...

COMO ESSAS CRIATURAS INFAMES QUE VÃO COMPRAR OS APARTAMENTOS NO CHIADO



Pensando bem, até fico com uma vizinhança muito melhor, no meu T1 na cova da moura.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Quem muito procura...

Obrigado Salsicha http://salsichanaotedesgraces.blogspot.com/

Devia ter chegado lá sozinho é verdade, mas é tão mais fácil roubar as soluções dos outros!

"...por já ter visto todos os filmes em cartaz no Arena Shoping (zona oeste), lá fui arrastada para uma obra prima do Tino e fui ver o Call Girl. ..."

Agora só tenho de ver os filmes todos que estão nos Medeia, e depois fazer uma cena tipo teatro de revista:

Ah! Mass eu já vi estes todos!!! Só me falta mesmo aquele com a coisa... a... como é que ela se chama mesmo??? Será que isto presta?

:-)

sábado, 5 de janeiro de 2008

Mauriquê?

Será que se a rapaziada lá para os desertos e afins conhecessem a Soraia Chaves facilitavam a coisa e nós sempre víamos o Dakar...

_Ó Soraia, não queres vir dar ali uma voltinha até à Mauritânia?

_Mauriquê?

O Dilema!

Como é que um homem faz para ir ver o Call Girl ao cinema sem fazer figuras de rebarbado??? Faz de conta que achava que o filme era bom?... que foi ver o desempenho do Ivo Canelas? E do Nicolau? :-/

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

100 Obras para ouvir antes de morrer - nº2


O Pássaro de Fogo - Igor Stravinsky




Por muito bem que se conheça uma obra em cd, ao vivo é outra coisa. No caso de instrumentos acústicos ainda mais. No caso de um dos melhores orquestradores da história da música então nem se fala... Stravinsky é de longe o meu compositor preferido. O eterno inconformado, diferente em todas as suas fases, e ao mesmo tempo inconfundivel. Escreveu esta obra bem novo, e foi a terceira escolha de Nijinsky para compôr esta encomenda dos Ballets Russes. Perdoem-me os bailarinos, coreógrafos e amantes da dança, mas ainda bem que tive a oportunidade de ouvir simplesmente tudo o que lá está sem mais nada a captar-me a atenção. É que a musica é tão boa que me custa a imaginar uma encenação que lhe faça justiça.




E ver a Joana Carneiro, que cabe dentro duma mochila de campismo, enorme á frente da orquestra.




Só é pena que o público da Gulbenkian esteja cada vez pior. Cada vez mais parecido com o que se vê no resto das salas do país. Tosse um, e de repente parece que entrámos na ala dos tuberculosos de um hospital...

Amanhã vou outra vez! Obrigado Sr. Gulbenkian pelos bilhetes de graça :-D




quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

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Blossom

I will be what always had, but never assumed, I know a smile will heal the wounded, simplicity shines beside greatness. Grace, so mysterious, is an inner step away. I will be me assumedly. I accept all I have to give. Happiness. I hope it will simply come. It’s not a secret buried, but we have to aspire to know it at least.