sábado, 16 de fevereiro de 2008

Escolher

Hoje tive o primeiro abalo na coragem desde há tanto tempo. A mesma coragem que vai fazendo parecer ás pessoas que sou mais alto do que sou na realidade. A alegria e o optimismo, de sol a sol, que me parece contagiar um pouco quem está à minha volta.


Na balança das coisas, o peso de um sentimento dá a perspectiva do seu inverso.
Hoje vi a possibilidade do sofrimento onde por tanto tempo apenas vi a possibilidade da felicidade. Clarividência, nada menos que isso. A imagem da queda, da altura do vôo. Hoje na claridade da tarde vi toda aquela dor. E tive medo. Apesar de cada vez menos sentir esse direito.
Terá quem rejeita a felicidade de compromisso o direito a ter medo da queda? Terá alguem que sente que toca os outros o direito a sentir-se frágil?


É-se forte por escolha, não por vocação. Existêncialismo: estamos eternamente condenados a ter o direito de escolher. Tendo caído tanto, escolho no entanto sempre os altos vôos. É tão legitimo como a segurança dos pés no chão.


Na realidade não espero cair assim tanto. Não há razões para isso. Esse é um dos segredos da coragem. Isso e aceitar que sobrevivemos sempre apesar das quedas.

Não é só atração do abismo, nunca poderia ser, às vezes a vida também nos empurra e temos de ir. Temos de escolher ser fortes. Como hoje tive de sorrir tanto ao ouvir Stravinsky na Gulbenkian ao final da tarde. Tive de me sentir reconfortado na simplicidade que é escrever, enquanto vou ouvindo a banda sonora do Solaris. E olhar para esta fotografia e pensar que até a mim me engano com o meu próprio tamanho. Nela está tanta felicidade. Como ver outra coisa?

Amanhã lá vou lavar a alma nesse mar enorme. Depois há-de vir o resto. Enquanto puder, hei-de escolher sempre ser maior do que aquilo que sou.

3 comentários:

Ana disse...

Na minha opinião é a escolha mais acertada, ser sp maior :-)

Rita disse...

uma simples maneira de facilitar muita coisa. Sempre maior!

Naftalina disse...

Sim, repondo eu. Quem rejeita a felicidade de compromisso tem o direito de ter medo da queda. E sim, tem todo o direito de se sentir frágil quem toca os outros.
Continua a sentir-te sempre maior e a pensar que vais sobreviver a todas as quedas.
:)