O Túnel do Rossio foi finalmente inaugurado ontem.
Como uma bela inauguração exige, havia viagens de graça para que todos pudessem experienciar a "nova" rota.
Como é verificado em tudo o que é de graça, compareceu na inauguração uma multidão. Todos queriam ver e estavam contentes pelo convite aberto.
Todos entraram para as carruagens novas, limpas, vazias do comboio que esperava. Quando lhes perguntaram qual o destino, para onde se dirigiam, ninguém soube responder. Cada um sugeriu uma paragem e os nomes não coincidiam. Afinal o que interessava era a viagem ser de graça.
Estavam a dar alguma coisa. Esta é a atitude quando se oferece alguma coisa. Se for uma caneca no pacote de café, compramos dois. Se for um boné no sumo, compramos cinco. Se for uma fatia de bolo do último lançamento de uma marca, arranjamos maneira de passar segunda vez. Se for uma viagem grátis, sabe-se lá para onde, enfiamo-nos todos no comboio e recebemos uma viagem igual a todos os dias, com a carruagem a rebentar pelas costuras, com a diferença que foi de borla. E, isso, parece que não mas faz logo toda a diferença.
O mais preocupante não é esse entusiasmo histérico. O mais assustador é perceber que por detrás deste comportamento, está uma necessidade de fugir a uma vida sempre igual e por si só rotineira. Uma vida miserável que leva com reclamações e nada de resoluções - é o fado! Uma vida que tem os tostões contados para cada dia. Uma vida cheia de desespero por esses tostões não se multiplicarem e não haver qualquer tipo de vislumbre de um emprego. Uma vida que passou e que, agora na velhice, não é mais do que uma solidão exarcebada e miséria.
Mas não, afinal quem não paga uma viagem para ver todo o entusiasmo de uma imensa multidão. Um momento de felicidade.
"Deêm-lhes pão e circo..."
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4 comentários:
Achas q por trás está essa necessidade de fuga à rotina? Eu n sei... Isso implica algum tipo de consciência q eu n sei se está presente nesses momentos. Acho q são apenas momentos de perfeita inconsciência da carneirada.
Pão e circo e vivemos mansos...
ás vezes prefiro acreditar que há mais do que essa inconsciência de carneirada... embora seja por deveras evidente q não é possivel!
mééééhhh!!!!
Eu acredito que é uma vida sem redenção, onde de facto os tostões não se multiplicam, e o ressabiamento cresce e, se dão, se é de borla, eu quero, não interessa o quê. Vivemos num país sedento. E esta sede tira não é compatível com charme e beleza e polimentos.
Não há, talvez, consciência de carneirada, mas se houvesse, o que mudaria? A sede continua lá!
Grande post, obrigado.
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