quarta-feira, 26 de março de 2008

"Olhe, desculpe!"

No que toca à reclamação pode afirmar-se que todos temos um problema. A huge one. Não reclamamos. As coisas estão mal, não fazemos nada. No máximo lamuriamos qualquer coisa, mas acção que é bom, nada! Dizem que está no sangue dos portugueses serem assim, que a culpa é do fado. Não me parece uma grande ajuda.

Se vamos a um restaurante e somos mal servidos, provavelmente desvia-se o prato para o lado e como resposta à frequente questão "Estava bom?", dizemos "Mais ou menos". Ninguém vai querer mandar o pedido para trás, pois são célebres na nossa cabeça as cenas do pessoal na cozinha a cuspir indignado para o nosso prato e devolvê-lo. É uma imagem que não queremos experimentar. Silêncio.

Se temos por força das circunstâncias de chamar um reboque porque um caramelo qualquer resolveu estacionar em frente à garagem, quase que nos sentimos mal. E tentamos saber se vive perto, se podemos evitar uma bela de uma multa. E ele que estava mesmo a pedi-las. Chega a polícia. Esclarecemos a situação quase em tom de desculpa. De repente somos nós que estamos ser intransigentes, arrogantes e os maus.

Esta tendência para as emoções que trocam de papéis num ápice não é saudável. Quanto menos se reclamar, menos parecerá um direito legítimo, mais de lado os corajosos que decidem abrir a boca serão olhados de lado. Entra-se numa espiral. Num claro caso de "pescadinha de rabo na boca". Se houver menos silêncio talvez as coisas corressem de maneira melhor e aí deixaríamos de entregar por completo ao fado toda a preguiça e desconforto provocado pelo olhar curioso do resto dos clientes do restaurante. O pessoal da cozinha começaria certamente a ser mais esmerado e estava poupada uma outra reclamação. Teríamos silêncio. Silêncio agradável ocupado em saborear o jantar.

5 comentários:

Dejando huella disse...

Eh um desatino! Quando peço o livro de reclamaçoes num hotel, num restaurante ou algo assim, todos olham para mim como se fosse malvada. Uma madrasta, mesmo. Mas de que serve? Ha uns meses reclamei de uma funcionaria publica que se recusou a prestar-me informaçoes sobre o IRS e veio o chefe das Finanças pedir-me que nao reclamasse. Reclamei na mesma e a resposta por escrito foi "nao ha razao alguma para ter reclamado da funcionaria X pois eh uma funcionaria muito empenhada e querida por todos os colegas". Que raio de resposta, ahn?

Tempus_Fugit disse...

Olhe eu tenho uma reclamação a fazer... A menina põe-se com posts a horas em que ainda tem os ohos cheios de ramelas e depois o português leva assim uns, não digo pontapés, mas calduços, vá.
O tempo dos verbos minha cara...
:-)

O grande jantar do staff 6a Feira confirma-se ou que???

Beijo!

Rita disse...

Ohhh carissimo por quem é. A utilização da terceira pessoa no plural é completamente diplomática e companheira... felizmente há quem reclame;)
Venha esse jantareko. Só ainda não tive tempo de pensar num sítio exótico...

Rita disse...

Dejando Huella a reclamação é muitas vezes encarada como uma afronta pessoal, só pode, porque senão para quê a parte de "...é querida por todos os colegas."? Já seria suficiente se o pessoal começasse a mexer-se por pequenas coisas sem chegar ao dito livro. Não acontece:)

Dejando huella disse...

:)