domingo, 13 de janeiro de 2008

RETRATO

Quando eu tinha 20 anos era mais ou menos assim:

SER PORTUGUÊS
Poemacto de Geração

A Viagem

Há uma viagem que se faz por um rio que não se conhece, que se descobre a cada palmo navegado, numa embarcação que só o tempo dá a conhecer e nos diz onde forçar e onde proteger. Uma viagem que não escolhemos, um destino que não conhecemos, um prognóstico metereológico que nos é dado no fim da viagem, quando só nos é permitido refazer a carta dos sonhos passados e das amarguras que ficaram no fundo do copo, secas com o vinho de ontem que bebemos os dois. Sim, alguns cursos do rio foram partilhados, outros ainda o são, e a viagem continua num rio que já é mar, ou lagoa, água de uma barragem sem terra à vista sem mais rio para desaguar. Caravelas de esperanças, lágrimas de crianças, céu azul, verdes campos e margaridas por desfolhar, rios por viajar e terras prometidas, reis que nunca vês nesta terra do nunca... e o alentejo não tem mar e as rosas não têm mãe e o cristo continua sem biblioteca e o rio continua a correr, sem edição original, docemente para o mar ou para o raio que o parta ou para o raio que me parta, que esta terra é profíqua em tempestadades mas parca em pára-ráios...Vamos todos quantos somos neste rio navegar para no final da história nele alegremente ficar...afogado ou asfixiado pelo petróleo das motas de àgua, ‘No importa, No passa nada, mi estrellita’. A noite cai…do céu aos trambolhões, e quase se magoa, felizmente isto é um rio, enfim, a noite cai e o azul do céu fica igual ao preto da terra, que da tão prolongada ausência permutou a cor vivaz por preto de luto, como o de um parente que não é chegado e já foi indo, pelo Letes, à procura do barqueiro, afim de se libertar do negro óbolo que resguarda em sua boca, na esperança da passagem para um futuro palpável que não se esvaia entre os dedos e se confunda com o sonho, como aquele do dia em que aportámos ao paraíso e pedimos um galão de máquina e uma merenda e o Luís nos tocou aquela canção de embalar da mãe do Brower enquanto comíamos tranquilamente e respirávamos fundo, aproveitando o ponto final antes do aluvião, o silêncio da pausa, o pretérito imperfeito, ponto.

Parágrafo.

(porque me apetece respirar e isto são só letras e não mandam mais do que eu, que aqui ao leme sou o maior, sou o país que só eu sou, o continente incontinente, o barco na banheira com um ralo que decide se presta o leme que eu governo de peito inchado e barriga vazia, Vamos lá cambada, passa a bola ó campeão, afinfa-lhe no ‘disco-sound’ e uma amesquete sempre arranca uns aplausos GOOOOOOOOOLOOO)

. Ainda o mesmo parágafo.

6 comentários:

Tempus_Fugit disse...

Por isso é que eu gosto de ti! É sempre bom uma pessoa descobrir que não é o único que aos 20 já tava todo queimado...

Diabolous in Musicae disse...

E ainda não viste nada, quando eu colocar aqui a continuação deste meu retrato aos 20 vamos ter que beber um vinhito para nos rir-mos um pouco... Aquela coisa da catárse e tal...

Stella Maris disse...

Como te lembras disto tudo?

Diabolous in Musicae disse...

COmo assim Stella? Os textos estão guardados, as ideias...vivem-se. Acho q n percebi a tua pergunta.

Stella Maris disse...

Pareceu-me que estavas no rio Letes e quando se passa por ele... (é o rio do esquecimento). Foi neste sentido a minha pergunta :)

Diabolous in Musicae disse...

Linda, dizem-me que sou "lentooo!!!", talvez tenham razão. Muito bem visto, mas parece que às vezes sobrevivemos ao Letes. Talvez lento, mas pelos vistos, pouco perspicaz!
"Tiro-te o meu chapéu imaginário"