sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Isso e Aquilo



[A versão da Nana Caymmi é estupidamente melhor, mas foi o que se arranjou...]*


Não, não se pode dizer que eu seja um homem de sono tranquilo, pesado sim, mas tranquilo não. O mundo pode estar a desabar e eu...dormindo, a vizinha dos baixo pode estar (como está) a derrubar paredes 1h30 seguidinha e eu lá começo a dar umas voltinhas...

Tendemos a cristalizar os gestos que ficaram, os afectos - maculados ou não (mas o carinho tem uma força imensa, poderosa, que suplanta muita velhacaria...), construímos e reconstruímos memórias. Tenho por natureza esta ânsia recolectora de cacos, como princípio activo de recuperação e edificação de monumentos em escombros, passada a dor da ruína. Nestes fôlegos criam-se estátuas de Respeito que se erguem em pedestais para que se possam reunir os pedaços e proceder à limpeza dos destroços. Mas efectivamente (não era à toa que D. Pedro IV não morria de amores pela ideia de se deixar retratar em estátua, uma vez que não o quebravam em carne não era em pedra que o fariam...) esse acaba por ser um destino evidente: é preciso sová-la, quebrá-la, reduzi-la a pó, só então é possível a edificação de algo novo, talvez belo. O terramoto foi o milagre da urbanização, Pombal jamais teria qualquer possibilidade de edificar uma Baixa se não tivesse perecido qualquer vestígio do caos que era anteriormente, é preciso quebrar para edificar, a reconstrução é destruição com pó-de-arroz, não há hoje uma só gaiola pombalina intacta, com uma baixa esventrada de montras...

Não há já para onde te mandar...nomeaste-te, e de facto assim é!

Deveria seguir mais afincadamente a minha intuição, que tanto menosprezo e tantas vezes me diz eu bem te disse... A História da Suspeita na nossa estória faz-me lembrar um colega que eu tive, que quando se perdia só perguntava o caminho aos polícias, pois era sempre o primeiro a mentir quando a ele lhe perguntavam a direcção - tirava daí um secreto prazer...

Não, não tenho o sono mais tranquilo, creio que não se perdeu a ferida, que contudo ainda sinto, mas sim, a lua na minha janela já não é aquela que te recebeu...



Tenho um sono mais tranquilo
Do que isso e aquilo
Que você me prometeu
E a verdade mais doída
É que o rasgo da ferida
Nunca mais doeu

Por tudo que se passou
Por tanto que me rendi
De repente entendi
Que você nem notou

O vento que vem do mar
A estrela que despontou
Nas águas do meu olhar
A luz que te descansou

E a lua na minha janela
Não é mais aquela
Que te recebeu...


*confirmar aqui

P.S. para os que notaram a discrepância, cumpre-me dizer aqui que a letra transcrita é a que saiu originalmente do punho de Iso Fisher


3 comentários:

Diabolous in Musicae disse...

Aqui na versão dos autores:

http://isofischer.multiply.com/music/item/13/Isso_e_aquilo_Guilherme_Rondon_Iso_Fischer2_1_song

guardanapo branco disse...

apetece-me comentar-te, mas tenho de sintetizar primeiro! =Pp

M. disse...

é intuitivo, mas tenho a certeza de que se cruzam sim.
a rua parece a mesma.