quarta-feira, 24 de setembro de 2008

aquelas pedras

aquelas pedras
aquelas pedras do caminho
que trazia junto a mim
aquelas que a mim se juntaram
e que juntas fariam um castelo
florir na primavera
que separadas faziam sombra
e juntas abrigavam o sonho
e obrigavam à dor

aquelas pedras aquelas
que o olhar entumescia
graduando os dias em chumbo
mesurando as horas em devir
pedras aquelas em que o grão de areia
era charneira de um tomo enciclopédico
de uma lembrança a pedir
caminho carinho olhar que ombreia
atenção entendimento
olhar que te estende o braço que te dá a mão

devo ter feito um rascunho com tantas palavras um mapa
arriscado seguir por difusa realidade
sulcado vielas e nelas deixar marcos pelourinhos
que enforquem estátuas perdidas
de pedras que desvaneceram

aquelas pedras
aquelas que trazia junto a mim
edificaram cidades longínquas
com mapas de migalhas que alimentaram rouxinóis

Só resta o sulco na terra
qual sombra da existência de um castelo que nunca o foi
dessas pedras indigentes cuja morada se expraiou

um mapa não é o lugar

um sonho existe se se sonhar

um castelo existe se se construir


daquelas pedras perdi o lugar