terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Inverno



"Deus está no seu palácio de cristal. Quero eu dizer que chove, Platero. Chove. E as últimas flores que o Outono deixou obstinadamente presas nos seus ramos exangues, carregam-se de diamantes. Em cada diamante um céu, um palácio de cristal, um Deus. Olha esta rosa: tem dentro outra rosa de àgua, e ao sacudi-la, vês?, cai-lhe a nova flor brilhante, como alma sua, e fica esvaida e triste como a minha.
A àgua deve ser tão alegre como o sol. Senão, olha como correm felizes os meninos, debaixo dela, fortes e corados, de pernas ao léu. Olha como os pardais se metem todos, num súbito bando alvoraçado, na hera, Platero, na escola, como diz Dárbon, o teu médico.
Chove. Hoje não vamos para o campo. É dia de contemplações. Olha como escorrem as goteiras do telhado. Olha como se lavam as acácias, negras já, mas ainda um pouco douradas; como volta a navegar pela valeta o barquinho dos meninos, ontem parado no meio da erva. Olha agora, sob este sol instantâneo e débil, que belo arco-íris sai da igreja e morre, num vago fulgor, ao nosso lado."

Juan Ramón Jiménez
Platero y Yo
CVIII. O Inverno
Tanya Duck
Here Donkey

2 comentários:

Ana disse...

Mt bonito :-)

Feliz Natal!!!

Tempus_Fugit disse...

Brevemente numa sala de espectáculo perto de si... ;)