sexta-feira, 28 de maio de 2010

O meu aquário de nuvens




Um dos buracos maiores na consciência do ser humano é este: vivemos num mundo em que tudo é transitório. É simplesmente uma ideia demasiado aterradora para o comum dos mortais (e perdoem-me se uso a expressão comum dos mortais com tanta propriedade).

Os que pensaram até chegar lá (ou os outros que não chegavam por essa via mas a quem a vida deu um esclarecimento cabal) sentiram a ideia entranhar-se-lhes até aos ossos que caminham a passos largos para o pó que os aguarda.

Podem argumentar que a vida com a perspectiva da sua efemeridade sempre presente seria acabrunhada como o são grande parte das pessoas que o sentem. Não acho que fosse. Quer-me parecer que nos trataríamos melhor uns aos outros, que ninguém ia sacrificar o calor humano por uma colecção de selos, que é como quem diz, um maço de notas. E que aproveitávamos melhor o que continua a parecer um milagre, que é estarmos vivos, ao invés de nos lamentarmos pela inevitabilidade que é irmos morrer um dia.

Mas isso sou eu. Infelizmente ninguém me convence de que o São Pedro há-de estar à minha espera num portão que dá para um jardim muito bonito e com pessoas vestidas de branco em alegria perpétua. A mim parece-me que anda tudo numa cegueira voluntária, agarrados como podem a coisas que mais cedo ou mais tarde não hão de ter valor. A naufragar na existência quando poderiam flutuar, nadar, mergulhar... Até ao fim.

Quem sabe, um dia.

3 comentários:

Bruno Lázaro disse...

Epá qualquer dia tb escreves um livro. Já que tás com a pica toda aconselho-te a veres o documentário Zeitgeist

Joana disse...

Acho que se vive com demasiada necessidade de controlo, ter muitas certezas... se calhar o exercício mais difícil e deixar que a vida aconteça... dizer: não sei muito bem o que vai acontecer, viver mais à aventura!
:)

Tempus_Fugit disse...

Lázaro: se eu conseguir ser um blogger regular já fico contente com as minhas escritas... Mas vou espreitar o doc.

Joana: nem mais. pior um pouco quando toda a segurança é ilusão.